O Pedro tem 17 anos, fez ensino médio integrado ao curso técnico de química na ETEC Getúlio Vargas, em São Paulo, e sempre foi apaixonado por comunicação. Ele começou a carreira dele como designer gráfico, em 2012, mas foi durante o ensino médio que o Pedro desenvolveu essa paixão dele por comunicação de uma forma mais científica, através de seu interesse pela ciência da linguística e por aquisição de idiomas estrangeiros. Além disso, ele fez parte de cursos de computação da MasterTech e também fez pesquisa científica na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) na área de microbiologia. Agora, o paulista está prestes a embarcar para estudar Linguística e Ciências da Computação em Dartmouth College, em Hanover, pelos próximos 4 anos.

Como foi decidir aplicar no meio do ano?

“A primeira vez que eu comecei a pensar sobre ir estudar fora foi no começo de 2019, quando fiquei próximo de uma amiga que sabia muito sobre o processo e que pretendia aplicar. Mas, naquela época, eu ainda estava muito focado em vestibular e ainda pensava realmente em fazer faculdade no Brasil. Isso mudou de verdade quando eu fui para o Bootcamp da LALA (Latin American Leadership Academy), no início de julho, e conheci muita gente que estava se dedicando e estava muito engajada em aplicar para fora. Eu comecei a pensar se eu também poderia fazer parte daquele ‘mundo’ e ter acesso àquelas oportunidades e a me perguntar em que estágio que eu estava no processo do application. Foi quando percebi que eu poderia participar daquilo e buscar aquelas oportunidades para mim. Quando eu voltei da LALA, eu estava pensando muito sobre isso e percebi que fazia muito sentido para mim, para o que eu queria estudar e também para a carreira que eu queria no futuro. No final de julho, eu estava certo do que queria fazer através da perspectiva de conhecer outras pessoas e tentar trazer para mim essa visão de mundo.”

Como foi sua experiência começando o application “tarde”? Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou e o que você diria para quem está na mesma situação que você esteve?

“Um dos maiores problemas que eu tive foi conciliar as provas. O SAT com certeza é mais fácil que o enem, mas mesmo assim é uma prova que você precisa aprender a domar. Ela tem suas próprias particularidades que você precisa entender para não se perder no meio do caminho e alcançar a maior nota possível. No meu caso, por começar um pouco mais tarde, eu sofri bastante em relação ao planejamento necessário para se preparar para as provas. Eu me dediquei muito para elas, mas, ao mesmo tempo, era bem complicado porque eu estudava em colégio técnico e fazia cursinho pré-vestibular. Se você não tem uma noção de policiamento em relação a como você vai estudar e quais os recursos que você vai utilizar, parece que você não está progredindo. Eu acho que as redações foram uma etapa mais tranquila para mim, porque eu não só gosto muito de escrever como também comecei muito cedo. Eu comecei a escrevê-las em julho, então eu estava bem adiantado. Talvez começar tão cedo possa parecer meio loucura, mas eu acho que começar um pouco antes pode te dar uma noção melhor do que você escrever e não se sobrecarregar depois. Um outro ponto também é que as redações não requerem tanto preparo para você pelo menos ter ideias quanto aos temas, pensar sobre o que você quer escrever e como você quer contar sua história, seu storytelling mesmo. Para polir as redações realmente precisa de mais cuidado e atenção, mas também é algo que você aprende com a experiência, então eu acho que é muito legal que você comece antes.”

Como foi a experiência aplicando sem mentoria?

“Quando você tem uma mentoria, você acaba tendo uma segurança maior no application - você sabe que existem pessoas que já passaram pelo processo te orientando sobre o que fazer e como agir. Só por sermos alunos internacionais já dá uma insegurança muito grande, mas aplicando sem mentoria eu acho que é 3 vezes pior. Óbvio que mentoria é só uma ajuda extra e não quer dizer que você vai ser ou não aprovado, só que no final do dia você se sente muito mais confiante. Não ter essa segurança me afetou muito durante o application, e o que piorou mais ainda foi ter aplicado para a Brasa Pré no meio do ano e não ter passado. Eu pensava muito em desistir e pensava que eu estava fazendo tudo errado, ao mesmo tempo que me perguntava como eu iria passar para uma universidade fora se eu não tinha passado nem para a mentoria. Eu acho que ter esse tipo de pensamento é muito comum e não deveria ser. Mentorias são muito boas, mas elas são só um tipo de ajuda que você tem para te fazer entender melhor o processo de application. Se você não passou em uma mentoria, eu te diria para ter calma, tomar seu tempo de receber essa dor - porque é realmente algo que nos afeta -, e entender no que você errou e como você pode melhorar. Só não desiste, porque no final você pode colher um fruto que é muito maior que uma mentoria - e é isso que vale, não fazer parte de uma mentoria. Mentorias são um caminho que você pode seguir, mas há vários outros caminhos e atalhos que você pode usar para tornar o processo mais fácil ou até ter um apoio muito maior do às vezes até uma mentoria poderia te dar. Ao mesmo tempo, pode ser uma jornada em que você vai crescer e aprender muito mais do que você talvez crescesse em uma mentoria. No application, eu sempre queria ver no que eu estava errando e no que eu poderia melhorar, mas não ter tido uma pessoa certa que eu poderia correr para pedir ajuda quando tinha dúvidas foi muito complicado. Inicialmente, acho que um dos piores problemas de aplicar sem mentoria é não ter essa centralização de quem você pode pedir ajuda e tirar dúvidas, alguém que possa te explicar mais o processo. Uma coisa que me ajudou muito nesse ponto foi ver pessoas que estavam passando pelo mesmo que eu e criar uma comunidade ao redor disso. Criar relações com pessoas que me cobrassem as coisas que eu deveria fazer, que eu poderia discutir etapas do application ou até que eu poderia pedir ajuda com essays e outros componentes do application. Eu tinha amigos que todo dia eu meio que conferia como eles estavam indo, assim como eles conferiam como eu estava. Isso é muito legal porque me dava uma sensação de segurança, eu sabia que tinha alguém para falar sobre os meus medos, os desafios que eu estava enfrentando e até mesmo para pedir opinião sobre os processos que eu estava passando naquele momento. Então ter um ponto de ajuda para recorrer sempre que você precisar de ajuda é algo muito importante e muito legal, ao mesmo tempo que é um tipo de relação mais leve justamente por ser de amizade e ambos estarem enfrentando coisas parecidas. Eu inclusive mandava muito email para as pessoas lerem e comentarem as minhas redações, então ter esse senso de que existem pessoas que podem te ajudar, mesmo que não ‘oficialmente’, também me dava uma segurança maior.”

Por que você decidiu aplicar early decision e como você tomou essa decisão e se organizou para isso?

“Olhando agora, eu acho que essa decisão de aplicar early decision talvez tenha sido um pouco prematura, eu não acho que eu trabalhei muito nela. Como eu tinha muito pouco tempo para tomar essa decisão, eu tive que correr um pouco para entender o que era aplicar early e principalmente o que era o binding. Inicialmente, eu decidi aplicar early primeiro porque eu queria realmente receber a resposta mais cedo - eu não queria esperar até março para saber a resposta. E segundo porque na teoria - e isso é algo muito debatido - eu teria mais chances de ser aceito. Eu mandei minha application no último dia porque eu queria polir o máximo possível porque eu não queria mandar de forma alguma com alguma palavrinha errada ou com um erro de gramática. Em relação a me preparar para enviar, eu tentei criar prazos para mim mesmo. Eu sabia, por exemplo, quando eu queria ter os drafts das minhas redações prontas e eu me cobrava muito quanto a isso. Eu criava meio que essas deadlines pra mim mesmo como uma maneira de me policiar sobre quando eu tinha que ter as coisas prontas. Por exemplo, uma coisa que me ajudou bastante foi saber que meu personal statement já estava mais ou menos pronto no começo de outubro, que existiam alguns detalhes que eu poderia melhorar e mudar mas coisas pequenas. O SAT foi mais complicado porque como eu tinha que mandar tudo antes de novembro, eu tive que fazer o SAT de outubro. Eu sei que eu poderia ter me preparado muito melhor caso eu tivesse feito ele em dezembro, mas por ter feito ele antes eu tive que mudar tudo em relação a como me preparei para prova e como eu dei atenção a isso. A minha rotina em si era muito pesada e por isso eu não consegui dar tanta atenção ao SAT quanto eu queria. No fim, é muito uma questão de auto policiamento mesmo, de saber que você está sozinho e que você precisa se cobrar porque existem prazos que você precisa entender e precisa cumprir. Acima de tudo, com essa parte de early é importante compreender o que é binding, o que é early decision e pensar se faz sentido realmente você estar aplicando early para aquela universidade, principalmente se for com binding. No começo eu queria aplicar early para Stanford e no final eu não apliquei porque eu percebi nesse trajeto que não fazia sentido para mim. Eu tive muita preocupação com relação a entender tudo o que estava acontecendo. Eu tinha noção de que se eu aplicasse early binding eu teria de fato que ir, só se eu não tivesse um bom financial aid package. Saber que não é qualquer decisão e de que é uma coisa muito séria é muito importante ao fazer essa escolha.”

Agora eu queria saber o famoso “por que Dartmouth?”. O que faz seus olhos brilharem quando você pensa em Dartmouth e o que te fez aplicar early decision para lá?

“O ponto principal de Dartmouth para mim é o foco em undergraduate education. Eu tenho muita insegurança em relação ao ambiente acadêmico, eu não gosto de estar em um ambiente acadêmico que eu enxergo como hostil e eu acredito que isso não contribui comigo de nenhuma forma. Eu não gosto de ambientes acadêmicos que sejam altamente competitivos. Óbvio que ainda estamos falando de uma Ivy League, mas ainda assim uma Ivy League muito menor e que tem muito mais foco em undergrad do que em graduate studies. Eu acho que eu foquei muito em tentar achar um lugar que seria muito bom para eu poder me desenvolver, mas que ao mesmo tempo não me fizesse mal ou não me deixasse ansioso no meio do caminho. Por exemplo, por que que eu troquei Stanford por Dartmouth? Eu sabia que Stanford era uma universidade muito maior, era um tipo de competitividade muito exacerbada e eu não iria me sentir confortável - acho que eu teria muita síndrome do impostor. Eu acredito que isso iria afetar como eu lidava com a parte acadêmica e eu não queria prejudicar minha experiência e meu crescimento acadêmico por conta do ambiente em que eu estivesse. Eu queria achar um lugar em que eu poderia aproveitar todas as oportunidades que me fossem dadas, mas sem me cobrar ao ponto de se tornar um ambiente tóxico. Dartmouth se encaixa muito nisso porque não só é uma universidade muito pequena como também todo mundo que está ali tem um senso muito forte de comunidade. Eu acho que eu valorizo ainda mais esse senso de comunidade do que o senso acadêmico, porque eu acho que a faculdade é muito mais sobre onde e com quem você está do que de fato as aulas que você vai assistir. Dartmouth tem um senso de comunidade muito forte e esse é o ponto principal de eu ter feito a mudança de Stanford para Dartmouth.”