O Rafael Monteforte é do ABC paulista, tem 21 anos e está no último ano da faculdade em Grinnell College. Estudante de economia e ciências políticas, o Rafael é envolvido com grupo de latinos, é presidente da BRASA e estudou por um ano na Sciences Po Paris. Durante o ensino médio, ele era envolvido com olimpíadas científicas e jogava vôlei profissionalmente. Vem conferir a trajetória do Rafael!
Como foi o seu ensino médio?
Colégios particulares tradicionais eram muito caros e eu tenho um irmão gêmeo, então eu sempre soube que eu tinha que conseguir um ensino bom e acessível para a minha família. No início do meu ensino médio, eu fiz a prova e consegui entrar no Colégio Termomecânica, que é um colégio gratuito e bem seletivo. Eu era atleta de voleibol profissional durante esse período. Eu jogava pelo time da minha cidade, participava de campeonatos estaduais e dali veio meu primeiro trabalho. Ao mesmo tempo que eu buscava uma escola academicamente forte, eu queria conciliar os estudos com o esporte, então, embora as melhores escolas estivessem em São Paulo, eu nem cheguei a prestar vestibulinho pra lá porque não queria largar o vôlei e acabei continuando na minha cidade. Eu sou muito apaixonado pela minha escola, que tem uma proposta de escola bem diferente das escolas particulares tradicionais. É um campus gigantesco no meio de uma favela e metade das vagas são para pessoas de extrema baixa renda, com o intuito de promover acesso a oportunidades através da educação para pessoas que não as teriam. Antes, eu tinha sempre estudado em escolas particulares pequenas, mesmo com bolsa. O nicho que eu passei a conviver mudou bastante quando eu entrei no Colégio Termomecanica e eu acho que isso foi importante pensando na questão de furar um pouco a bolha e conviver com mais diversidade e mais pessoas. A escola em que eu havia estudado antes era bem pequena e não tinha muita coisa (tipo olimpíadas e atividades extracurriculares), mas quando eu entrei na Termomecânica tinha tudo. Desde esportes, orquestra, campeonatos de robótica, várias olimpíadas… Eu gostava muito de fazer as coisas pelo simples prazer de fazê-las. Eu participei dos times de quase todas as olimpíadas, ganhei prêmios em algumas e acho que a mais importante foi a ONHB. Eu já tinha feito várias olimpíadas de exatas, mas a ONHB é muito diferente. Eu gostava muito da OBL também, porque assim como a ONHB, ela é mais do que só uma prova como a maioria das outras olimpíadas de exatas. Então, durante o ensino médio, eu continuei jogando vôlei, fui atleta e participei de algumas olimpíadas, além de me envolver com projetos sociais dentro e fora do contexto escolar. Além das oportunidades que o Colégio Termomecanica me trouxe, foi uma experiência única para entender um pouco mais de como a educação é fundamental para tanta gente. A escola se dispunha a dar tudo para os alunos. Então, a partir do momento que você estava lá, eles queriam passar a ideia de que todo mundo era igual (principalmente na questão financeira). Eu acho que essa foi uma experiência muito interessante no sentido de que, ao mesmo tempo que eu tinha do meu lado pessoas que tinham pagado escolas particulares caríssimos a vida inteira e feito pré-vestibulinho para entrar na Termomecanica, eu também tinha colegas que ficavam o máximo de tempo possível na escola fazendo atividades extracurriculares para receber comida, porque em casa tinha uma família grande e aquela pessoa comendo na escola seria um alívio financeiro. A partir disso, eu fui me apaixonando pela educação e entendendo como ela não pode ser um entrave na questão de desigualdade social impondo barreiras financeiras - como ela deve realmente ser uma forma de diminuir as desigualdades no Brasil. E é muito isso que eu acredito e que levo comigo até hoje.
Como foi a transição do ensino médio para a faculdade e como surgiu a ideia de ir estudar fora?
Assim como eu queria ir para um ensino médio gratuito, eu tinha na cabeça que na faculdade seria a mesma coisa. Desde muito cedo, eu e meu irmão sabíamos que a gente precisaria entrar em uma instituição pública ou conseguir uma bolsa em uma particular. Eu nunca gostei muito de estudar (no sentido mais “clássico” da palavra, de pegar um livro e ficar revisando), mas sempre gostei de fazer provas - e acho que essa era minha forma de aprender. Comecei a prestar vestibulares no primeiro ano do ensino médio, e, no segundo, eu prestei a FUVEST para Gestão Ambiental, porque já sentia que queria trabalhar com algo que tivesse impacto, aproveitando para prestar um curso em que a segunda fase da FUVEST fosse mais multidisciplinar. A USP pra mim já era algo muito inalcançável e fora da minha realidade. Eu tinha muito medo de não passar nem para a segunda fase. No final, eu fui aprovado em primeiro lugar no curso. Então, no começo do meu terceiro ano eu comecei a pensar “cara, se no meu segundo ano eu passei em primeiro lugar na USP, por que não tentar algo a mais?”. Meu irmão tinha passado em terceiro lugar no curso dele também e a gente pensou que, se não tinha nada no Brasil que a gente quisesse mais que a USP, a gente poderia tentar algo fora do país. A gente jogou no Google “como estudar fora” e começou a pesquisar, mas não conhecíamos ninguém que tinha ido ou pelo menos tentado ir estudar fora. Já tínhamos lido sobre a Tábata Amaral, mas a gente não fazia ideia de como aquilo funcionava. No final do primeiro semestre do meu terceiro ano, a gente decidiu fazer o application. Conheci o BSCUE e, ao entrar no grupo, vi que as inscrições do BRASA-Pré, programa de mentoria da BRASA, ainda estavam abertas. Eu fui aceito no BRASA-Pré perdido, sem saber direito o que era SAT ou Common App, e a BRASA me guiou por tudo, além de me ajudar financeiramente com as provas. Recebi uma mentora excelente que me ajudou demais - eu tinha dificuldade até com o inglês para escrever as essays. Isso, ao mesmo tempo em que eu não ia deixar de prestar FUVEST, UNICAMP e ENEM. Minha família achou que era meio que uma brincadeira e não fazia muita ideia do que a gente estava fazendo. Eles não tinham familiaridade nenhuma com o processo de application, mas eles nos apoiaram muito. A partir da BRASA, eu comecei a entender o que era realmente estudar fora. Eu comecei a entender que estudar fora não é só a Tábata indo estudar em Harvard - a gente tem mais de 4.000 instituições de ensino superior só nos Estados Unidos, instituições completamente diferentes e Harvard não é feita para todo mundo.
Através do BRASA-Pré, eu ouvi falar de Liberal Arts e achei interessante a questão de a ter muita liberdade acadêmica. Eu ainda estava indeciso quanto ao que eu queria estudar. Por exemplo, eu tinha prestado Gestão Ambiental no segundo ano e no terceiro eu prestei Relações Internacionais na USP, áreas que não são necessariamente tão próximas. Eu fiz o application, apliquei para várias Liberal Arts Colleges e acabei indo para Grinnell por conta da bolsa. Antes disso, eu fiz um semestre de RI na USP, aguardando os resultados do application. Eu e o meu irmão aplicamos para as mesmas universidades fora do país - uma das únicas condições impostas pela minha família - e a gente tinha um currículo bem parecido, então recebemos os mesmos resultados de todas - aceitos, waitlisted e rejected nas mesmas. Recebemos uma bolsa bem interessante em Grinnell e fomos juntos. Durante o meu application, eu vi que a galera que trabalhava na BRASA era muito boa. As pessoas com quem eu interagia eram de faculdades que eu admirava, conheciam muito do que faziam e trabalhavam duro. Eu cheguei à conclusão de que eu queria fazer parte desse grupo muito bom que estava estudando fora - minha faculdade tinha pouquíssimos brasileiros, eu queria falar português, me conectar com o Brasil, mas, acima de tudo, queria conseguir retribuir a ajuda que eu havia recebido. Queria ajudar mais pessoas que estavam tão perdidas quanto eu estava no terceiro ano e daí falei: quero entrar para a BRASA. No começo, fiquei inseguro se iria conseguir passar e resolvi fazer o primeiro semestre na faculdade para sentir como era, enquanto ia melhorando minha inscrição. Me candidatei para Gente e Gestão, o time que cuida do time interno da BRASA, entrei e fiquei muito feliz. Foi a melhor experiência que eu tive durante a graduação e estou na BRASA desde então. Passei por alguns times, sempre me desafiando a fazer coisas novas lá dentro, e convivo com pessoas muito boas que me inspiram cotidianamente. É muito legal estar na BRASA hoje e ver pessoas que eram o Rafael de 3 ou 4 anos atrás sem saber o que é estudar fora seguindo esses passos e conseguindo bolsas de estudos no exterior. Eu fico muito orgulhoso de ver que eu consigo impactar milhares de brasileiros nesse meio tempo e ajudar algumas pessoas a irem estudar fora e a se descobrirem durante a graduação.
Você passou por algum desafio ou dificuldade durante o seu application? Como foi para superar isso?
Eu fui o primeiro estudante da minha escola a tentar ir estudar fora, então um dos grandes desafios foi explicar para a escola o que eu estava fazendo. Eu cheguei a conversar com a orientadora e eu lembro de um dia que eu e o meu irmão estávamos conversando com ela sobre o application e ela falou “o papel da escola é te ajudar a passar no ENEM, isso não é o papel da escola”. Foi um processo de convencimento que levou meses, de explicar o que era o processo, o que ela teria que fazer, sentar com ela para ela criar conta no Common App. Eu tive que pedir autorização para a escola para que os professores enviassem a carta de recomendação, e eu não pude escolher os professores que eu queria - eu tive que mandar uma lista de 4 nomes para que a escola pedisse para 2 professores me enviarem a carta de recomendação. No final deu tudo certo, eles me apoiaram, são pessoas fantásticas a quem eu devo muito da minha trajetória, mas a coordenação tentou de certa forma cortar as nossas asas e falar “pera, vamos tentar passar no ENEM, já tá muito bom você entrar na USP ou em uma federal, a gente não é feito para isso, a gente não é uma escola internacional”. Esse processo foi um pouco complicado, mas a gente também nunca deixou de fazer as coisas para a escola por isso ou nunca pensou em deixar de fazer o enem. O que ajudou foi tentar ser compreensível com a situação deles, eles nunca tinham vivido isso e a postura é realmente de entender isso e sentar e explicar o que era. A gente sempre soube que é um processo muito incerto, não sabiamos se a gente ia passar ou conseguiria ir. Outra dificuldade grande que a gente tinha era o inglês - era um inglês bom para escola, mas para fazer provas de inglês e ir morar fora não era. Se pegar as provas que eu fiz, a parte de matemática era muito boa mas a parte de inglês já nem tanto. Acho que um conselho que eu daria para mim se pudesse, é realmente se dedicar mais a estudar inglês a partir do momento que eu decidi ir estudar fora. Teve o ponto também da minha família, porque meus pais não falam inglês, não tinham dinheiro para pagar o meu application - então a BRASA foi fundamental nesse sentido -, não faziam ideia do que estava acontecendo. Embora eles apoiassem, quando a gente foi aprovado no exterior, minha mãe falou algo do gênero “ah, que legal que vocês passaram, mas vocês não vão né?”. E eu entendo. Eu e o meu irmão estávamos na USP e íamos largá-la para entrar numa trajetória super incerta, numa faculdade pequena, num país em que minha rede de suporte era praticamente inexistente. O processo de convencimento da família foi um pouco complicado no final. Eu nunca levei nada no processo de application como o fim do mundo porque eu sempre soube que era um processo muito novo e difícil pra mim e que eu sempre tinha a opção de continuar no Brasil. E recomendo muito para quem está aplicando nunca levar nada como certo e ter clareza da incerteza. A gente nunca tem certeza se a gente vai ou não passar e ninguém tem, não dá para falar “mas meu perfil é perfeito para essa universidade” porque tem você e mais 30 com o perfil da universidade. Tem muito brasileiro muito bom, tem muita universidade muito boa e, no final das contas, são pessoas que leem o seu application e tomam as decisões - e pessoas não são à prova de erros ou vieses, então essa é uma variável que não tem muito como controlar. A dica que eu dou é sempre ter planos B e C para não se frustrar, não depositar todas as suas fichas em ir estudar fora porque se você não passar pode ser extremamente frustrante, ao mesmo tempo que não deposite todas as suas fichas em um só vestibular ou uma só faculdade no Brasil. Óbvio que você deve correr atrás dos seus sonhos, mas sempre tenha uma rede de opções e suporte até para você não colocar tanta pressão em si mesmo. Eu conheço gente que passou por um momento extremamente difícil no application, de tensão muito grande porque era tudo ou nada. Eu acho que eu nunca cheguei nesse ponto porque eu sempre tive em mente que é algo muito fora da minha realidade e que eu estava tentando meio que de última hora, então se desse certo, perfeito, mas se não desse, paciência, minha vida não acabava ali. Essa mentalidade de não ser tudo preto ou branco e 100% definitivo me ajudou muito no application e eu recomendo, eu sei que é muito difícil para quem está no processo. A gente tem 17, 18, 19 anos quando está aplicando e somos muito jovens, muita coisa vai mudar e a faculdade será só 4 anos da sua vida, é passageiro e não vai definir seu sucesso ou seu futuro. Às vezes você pode ficar mal por não ter entrado na faculdade dos sonhos, mas às vezes você teria uma experiência ruim na sua faculdade dos sonhos. É muito importante ter isso muito claro quando se está aplicando. E pra mim, claro, foi fundamental ter o programa de mentoria da BRASA, ter acesso a textos como os que o SuperMentor faz hoje, mas que na época eu via muito no Brasinhas e no BSCUE, foi fundamental ter essa rede de suporte. Tem gente que entra em faculdades muito boas sem nenhuma mentoria, mas, para mim, a mentoria foi super importante até porque eu, Rafael, não era disciplinado o suficiente sozinho e ter alguém ali me cobrando e me explicando o que fazer me ajudou muito. Então, eu também recomendo para pessoas que, assim como eu, não tenham tanta familiaridade com o processo procurar alguma mentoria gratuita. A gente tem o BRASA-Pré mas também há outras, como o EducationUSA, o Prep estudar Fora, e várias pessoas que querem ajudar, basta a gente estar preparado e disposto realmente a se dedicar a esse processo, porque a rede de apoio é gigante.
Por que ciências políticas e economia?
No meu terceiro ano, na última semana de inscrição para vestibular no Brasil, eu conversei com uma professora e ela sugeriu eu tentar algo relacionado a diplomacia, porque eu gostava de estudar línguas e ela falou que eu me relacionava bem com outras pessoas, conseguia transitar bem entre vários ambientes. Eu gostei da ideia e foi assim que decidi prestar Relações Internacionais. Quando eu fui para fora, eu queria fazer um double major, e fui pensando em fazer Economia e Ciências Políticas. Grinnell tem uma parceria bem legal com a Sciences Po, que é uma das melhores universidades do mundo nessas áreas. Desde que eu cheguei, eu sabia desse programa e sabia que queria ir estudar lá. Comecei a estudar muito francês junto com economia e ciências políticas e daí no final do segundo ano, quando fui declarar meus majors, acabei declarando Francês e Economia e fui para a França. Fiquei um ano em Paris estudando na Universidade de Paris e na Sciences Po, que é uma universidade maravilhosa. Me apaixonei por ela e foi ano fantástico para mim, tudo o que eu esperava e um pouco mais. Lá, eu peguei muita aula de ciências políticas e eu acabei voltando para o Rafael do começo da graduação. Agora, eu estou mudando de majors no meu quarto ano - então viva as Liberal Arts e a liberdade acadêmica. Voltei à minha ideia inicial e vou fazer majors em Ciências Políticas e Economia, não mais porque eu quero trabalhar em agências multilaterais ou com diplomacia como eu pensava no final do ensino médio, e sim porque eu acho que são conhecimentos muito interessantes que podem ser aplicados em diversas áreas. A minha ideia é voltar para o Brasil e trabalhar com educação. Eu acho que é isso que eu quero e que me vejo fazendo hoje pela minha trajetória. Acredito que tanto os conhecimentos de ciências políticas e da economia podem me ajudar muito nesse sentido. Não necessariamente eu quero ser um educador, mas trabalhar com gestão de educação é o que eu me vejo fazendo.
Como é estudar em uma Liberal Arts College?
Para mim, foi muito bom no começo não ter uma obrigatoriedade de me comprometer com uma área de estudo. Quando eu cheguei na faculdade eu não tinha a cabeça que eu tenho hoje e não provavelmente não teria se eu tivesse tido que me comprometer desde o primeiro dia. Eu tive a oportunidade de explorar aulas pela pura curiosidade acadêmica de descobrir sobre as coisas - fiz algumas aulas sobre educação internacional e comparativa, aulas de filosofia para falar sobre intolerância e até uma aula que falava sobre como esporte, imigração e nacionalismo interagem entre si. Talvez se eu tivesse falado desde o primeiro dia “estou estudando economia, vou só estudar economia” eu não teria pego essas aulas e não teria me desenvolvido intelectualmente e academicamente como foi. Fiz várias aulas que não tem a ver com ciências políticas e economia, além de ter quase um triple major em francês, ciências políticas e economia. Eu acredito que o diploma é um papel que daqui a 10 anos não vai ter validade nenhuma porque o que você fez depois é muito mais importante, então o que eu aprendi nas aulas é o que eu vou levar, não só necessariamente o diploma que eu tirei, e isso é o mais legal. Foi muito bom poder explorar, muito bom ter essa liberdade acadêmica de, por exemplo, mudar de major no meu quarto ano, e de constantemente me redescobrir e de me autoconhecer melhor.
Como é a parte social e acadêmica de Grinnell?
Grinnell tem um foco muito forte em pensamento crítico e questionamento - eles até criaram um slogan agora que é “Grinnellians ask hard questions and question easy answers”. É muito essa coisa de provocação acadêmica, no bom sentido. Embora não seja uma faculdade super conhecida, somos o top 10 ratio de PhD nos Estados Unidos, os estudantes aqui geralmente querem mesmo se desenvolver academicamente. A gente está no meio do nada, no meio do estado de Iowa, numa cidade de ~10.000 habitantes e a gente não tem tantas “distrações” - não tem um estádio de futebol americano pra ir ver jogos da NFL como em grandes cidades, por exemplo. A gente está ali para estudar e isso cria esse senso acadêmico muito forte. Eu gosto de estar rodeado de pessoas com quem se pode sentar no sofá da sala numa noite qualquer, e discutir coisas “aleatórias” do tipo como a bioquímica do cérebro influencia ou não o livre arbítrio enquanto comemos alguns snacks - uma conversa muito legal que eu tive com um amigo que estudava bioquímica. Outro fator legal de Grinnell é a questão financeira - não só porque me deu uma bolsa ótima, mas quando você está lá, o dinheiro não vai ser um empecilho para você se desenvolver academicamente. Eu já fui para 4 países por conta de Grinnell, além do meu intercâmbio. Por exemplo, fiz uma aula especial em que selecionaram 14 pessoas de diversos majors para a gente debater tolerância e intolerância desde o iluminismo até os dias de hoje focando na França e na Alemanha. Depois a gente foi passar 1 mês na França e na Alemanha fazendo estudos de campo e foi muito legal, eu não falo alemão, mas eu fiquei algumas semanas lá e foi incrível. Essas oportunidades são todas pagas por Grinnell e eles ainda me deram um dinheiro para eu comprar coisas lá se eu quisesse. Eu provavelmente não teria tido essa oportunidade se eu tivesse ficado na USP e esse é realmente o grande diferencial de ir estudar fora para mim. Acho a USP maravilhosa, assim como outras faculdades no Brasil, mas há algumas experiências fora que a gente não teria no Brasil e que são oportunidades únicas. Outro exemplo é que eu lidero um grupo na faculdade que chama Grinnell Extreme Society, que, em qualquer break, feriado ou tempo que der, vai para um parque nacional nos Estados Unidos ou qualquer área que tiver uma natureza legal para fazer um esporte na natureza. A faculdade paga tudo isso e são experiências extremamente não acadêmicas que Grinnell considera importante para seu desenvolvimento pessoal - eu já conheço mais estados nos Estados Unidos do que no Brasil a faculdade que me ofereceu essas oportunidades. Falando sobre a parte social, Grinnell é uma faculdade extremamente pequena, uma liberal arts clássica com 1.600/1.700 estudantes. A cidade é muito pequena, então boa parte dos habitantes da cidade já são os estudantes, professores e staff. É muito comum você ir jantar num restaurante e na mesa do lado estar seu professor com a família, ou você vai no mercado e encontra seu professor. É uma comunidade muito unida e todo mundo se conhece, o que é muito legal. É de certa forma também uma bolha, que traz consigo todos os problemas de bolhas, mas por outro lado é uma bolha em que está todo mundo tentando se desenvolver e se descobrir, e é um campus completamente diverso. Uma coisa que eu não esperava, especialmente pelos filmes americanos e pelo retrato das faculdades que é criado, é como todo mundo respeita as diversidades e conversa muito sobre isso. Existe muito mais discussão sobre o tópico do que eu via na escola ou até na USP. O campus também tem uma vida social boa de acordo com o que você quer- se você é uma pessoa super reclusa, você consegue ser super recluso e viver bem assim, mas se você é super festeiro tem festa todo dia para você, não se preocupe. Outra coisa muito interessante para mim foi a questão da latinidade. No Brasil, a gente não se reconhece como latino, mas nos Estados Unidos, por sermos brasileiros, todo mundo nos vê como tal, mesmo que você não tenha essa percepção. E daí eu comecei a pensar sobre o que é latinidade e foi um processo de descobrimento. Hoje eu me vejo como latino, faço parte do grupo de latinos da faculdade e a maior parte dos meus amigos são latinos. A comunidade latina é muito forte, muito acolhedora e me fez sentir em casa no meio de uma cidadezinha no mid-west. A comunidade internacional como um todo é muito unida e grande também, somos quase 20% do campus. Além da galera latina, boa parte das minhas amizades eu fiz na primeira semana de orientação para os internacionais, porque está todo mundo passando por um momento muito novo juntos. Quando eu cheguei no campus, só tinha mais um brasileiro além de mim e do meu irmão, e esse foi um dos motivos de eu querer me juntar a BRASA. Desde então, eu comecei um trabalho junto com o admission office de “vamos trazer mais brasileiros” e também um processo de visibilidade de Grinnell para brasileiros, a partir da BRASA. Nesse ano, 5 brasileiros estão indo para Grinnell e seríamos 12 no campus nesse semestre. 12 ainda não é um número super grande, mas foi um crescimento muito legal nesse período de tempo. Todos os brasileiros que eu conheço têm também um tipo de bolsa em Grinnell. A comunidade brasileira é bem unida e já somos uma das comunidades internacionais maiores do campus, mesmo sendo pequenos. Os brasileiros são fantásticos e vêm de várias partes do Brasil. Tem gente que estuda desde Teatro a Computer Sciences e a gente tem um sentimento muito de família, de cozinhar juntos, comer comida brasileira, ver televisão juntos. Pensando em participação em organizações, a gente quer criar uma BRASA local agora, sou envolvido com a Extreme Society, a Student Organization of Latinxs, eu sou uma espécie de assistente do time feminino de voleibol, dou aula de português para estudantes no campus e aulas em escolas públicas para crianças do ensino fundamental, de francês e espanhol.