Oi, gente!

Meu nome é Melissa Oliveira, tenho 17 anos e vou estudar em Stanford University a partir de Setembro de 2019. Antes de começar a falar propriamente sobre application ou em quais faculdades passei, quero dar um pouquinho de contexto para vocês. Eu nasci em Manaus, mas me mudei para São Paulo, capital, em 2012, onde moro com minhas duas mães e duas irmãs. Fiz meu Ensino Médio no colégio Anglo Leonardo da Vinci com bolsa completa e cheguei a iniciar a graduação aqui no Brasil em 2019, cursando Ciências Sociais na USP, enquanto esperava os resultados de universidades no exterior.

Mas como começou toda essa história de estudar nos Estados Unidos? Bem, eu quero estudar fora desde que tenho uns 7 anos, mas só fiquei realmente sabendo sobre o application quando eu tinha 13 anos durante o nono ano do Ensino Fundamental II, por meio do BSCUE (um grupo muito famoso do Facebook que conta com diversos applicants e muitos alunos que já estão no exterior e que respondem muitas dúvidas).

Mas, então, o que eu fiz para ser aprovada? Vou começar falando sobre extracurriculares. Eu participei de diversas atividades extracurriculares durante a escola, mas não considero que nenhuma delas seja surreal e inalcançável (nem perto disso, na verdade). A atividade que eu mais me orgulho e mais gostava de fazer era o Projeto Forte, um projeto que criei com uma amiga em que alunos do Ensino Médio davam aulas de reforço gratuitas semanais para alunos do Ensino Fundamental II de escolas públicas, buscando utilizar uma metodologia mais individualizada de ensino. Desenvolver esse projeto me permitiu entender melhor minha paixão por educação, vendo que sonho em trabalhar com metodologia educacional e mais especificamente com políticas públicas aplicadas a isso. Dessa forma, o Projeto Forte foi um dos principais focos do meu application (inclusive mencionei ele no meu personal statement). Ainda na área de educação, me envolvi em alguns outros projetos: por exemplo, fui embaixadora do MYTB (Mentoring Young Talents Brazil), participei por um curto período do Mais Sociais e participei da 2ª Conferência Mapa Educação.

Outra grande paixão que tenho é por movimentos sociais e política, então grande parte de minhas atividades extracurriculares estavam ligadas à isso. Alguns exemplos são que coordenei um coletivo feminista na minha escola (a qual era uma das minhas atividades favoritas), criei um site colaborativo sobre feminismo, participei de algumas simulações da ONU e até ajudei a criar uma dessas simulações em minha escola.

Por último, também iniciei um projeto de pesquisa no ramo de estudos de gênero e sociologia, com a ajuda do Cientista Beta, fui parte da equipe ThundeRatz, o time de robótica da USP, e também fazia aulas de canto, posteriormente, participando de algumas apresentações.

Eu desenvolvi grande parte das minhas extracurriculares por um bom tempo, algumas durante o Ensino Médio inteiro, outras por dois anos, etc. Acredito que tenha sido algo que pesou no meu application, pois permitiu que os admissions officers realmente vissem que eu fiz minhas atividades porque realmente gosto disso e porque eu via sentido. Portanto, eu tinha motivação para fazê-las e não apenas porque eu queria listar coisas no Common App. Além disso, assumi posições de liderança na maioria delas, o que acredito que também foi um ponto positivo. Também considero que foi importantíssimo utilizar as essays para ligar minha vida pessoal às minhas extracurriculares, ao que eu quero estudar e às minhas ambições, o que nos leva ao próximo ponto.

Eu acredito que as essays foram essenciais para os avaliadores entenderem o que eu gosto, por que gosto daquilo e o que pretendo fazer a respeito dessa paixão. Para mim, elas são um espaço para ser você mesmo e demonstrar sua personalidade, sem tentar listar extracurriculares ou honors, afinal, você já fará isso no espaço destinado. Claro que não há problema em citar alguma extracurricular se esta estiver ligada ao que você está discutindo na essay. Então, por exemplo, no meu personal statement, falei como minha avó despertou minha paixão por educação e que a razão de ela ter feito isso está ligada ao fato de que ela viveu um relacionamento abusivo longo e não conseguia sair dele por muito tempo, porque não tinha nem sequer terminado a escola, tornando muito difícil conquistar independência financeira. Com isso, consegui abordar por que a educação e o feminismo sempre foram tão importantes para mim, citando o Projeto Forte e outras situações. Outro exemplo de essay foi uma que escrevi para Stanford, em que eu falava mais sobre minha família e explicava como ter duas mães me influenciou a crescer feminista e envolvida com política. Sendo assim, as essays foram uma oportunidade para falar sobre temas que realmente me tocam e transmitir essa paixão para os admission officers.

Outro aspecto importante do application são as notas, tanto da escola quanto de testes padronizados. Minha escola era muito focada no vestibular, principalmente na Fuvest, então durante o terceiro ano eu tinha aulas o dia inteiro nas terças, quartas e quintas, além de quatro provas toda terça-feira. Isso fez com que fosse difícil conciliar estudar para o SAT e para os Subjects e acabei fazendo essas provas duas vezes, com uma rotina de estudos muito intensa (porque deixei muita coisa pra última hora — não façam isso, por favor hahaha). Acabei conseguindo um pouco menos do que eu queria no SAT mas foi uma nota boa mesmo assim. Já o TOEFL foi a prova mais tranquila, estudei durante uma semana e consegui mais do que eu queria, então foi uma das partes do application que me causou menos dor de cabeça. Quanto à escola, procurei sempre manter uma média alta, sendo a primeira do ranking. Pra finalizar, acho que é muito importante tomar cuidado com notas e provas padronizadas, mas é preciso lembrar que elas não são tudo! E uma coisa que foi muito importante para mim foi montar um school profile detalhado com minha orientadora, explicando a carga horária da escola, a quantidade de provas, etc, porque isso mostrava a dificuldade da escola e dava um contexto melhor para os admission officers.

Ainda no aspecto acadêmico, acredito que minhas honors tenham sido bem relevantes para o meu application. Participei de algumas olimpíadas e ganhei algumas medalhas tanto na Olimpíada Brasileira de Astronomia quanto no Canguru sem Fronteiras. Também fui aceita com bolsa integral no Stanford Pre-Collegiate Summer Program, com bolsa quase integral no Yale Young Global Scholars Program e no summer program de Columbia University. Ou seja, nenhuma das minhas honors era algo inalcançável ou surpreendente como uma olimpíada internacional ou prêmios por pesquisa, mas eu gostava muito de realizar essas atividades e tentei mostrar isso através das essays. Acho que é muito importante lembrar sempre que não adianta apenas ficar fazendo coisas para pôr no application. Façam o que vocês amam, se dediquem a isso e o reflexo virá nas suas essays e, consequentemente, nos resultados.

Mas é claro que o application não é um mar de rosas; é difícil conciliar com a escola brasileira, é estressante e às vezes parece que você não tem apoio nenhum. Sei que muitos de vocês, mentees, assim como muitos jovens de nossa geração e eu, têm ansiedade ou depressão. Eu tenho ansiedade desde muito antes do período de application, mas as crises se intensificaram nesse período, com a insegurança, a espera, a sobrecarga, etc. Então, meu conselho é: tenham uma rede de apoio. Não só dos seus familiares ou amigos, mas principalmente de gente que também está aplicando. O apoio que tive do Brasa Pré e do Prep Estudar Fora foi essencial não só financeiramente, para custear as provas, mas também porque pude conviver com muitas pessoas na mesma situação que eu, além de ter recebido muito apoio emocional das minhas mentoras.

Uma última dica que tenho é: se possível, apliquem early. Além de as taxas de aceitação serem maiores em grande parte das faculdades, você deixa muitas coisas prontas já em Novembro. Não me arrependo nem um pouco de ter aplicado early, mesmo que eu tenha sido deferred e depois rejected.

Mas e os resultados? Fui aceita em Stanford University, University of Pennsylvania, Dartmouth College, Vassar College, Wellesley College e Brandeis University e fui waitlisted em Columbia University, Brown University, Barnard College, Bryn Mawr e Hamilton College. Decidi ir à Stanford e não poderia estar mais feliz (e ansiosa num bom sentido!) com essa decisão!

Se tem algo que eu queria ter ouvido antes e quero dizer pra vocês agora é: mantenham a mente aberta! Algumas universidades podem surpreender vocês e só a jornada do application já vale a pena!